Era Uma vez
um Vale. Um lugar tão
maravilhosamente lindo, que podíamos pensar que era impossível não ser feliz ali. As flores eram de todas as cores, os pássaros cantavam. O céu era claro e limpo. O sol aparecia
para dar brilho ao lugar, e o vento suave brincava entre as árvores. No meio do
vale havia o rio que tornava o lugar mais fresco e cheio de vida. Os
peixes corriam ligeiros na água limpa, iam e viam entre as pedras em perfeita
harmonia. Do lado direito do rio, viviam
as pessoas que amavam em demasia
a cor do céu. Cultivavam as mais
variadas flores azuis: Agastaches, fúcias, erinus, e centenas de
outras. Aonde houvesse uma flor
azul, eles buscavam a semente e espalhavam no jardim. Vestiam-se
dos mais variados tons de anil, e cobriam as ruas entre as casas, de
pedras água marinha e topázios azuis de todos os tipos. Eles consideravam-se calmos e tranquilos, e respiravam essa
harmonia índigo.
Mas lá, do
outro lado do rio moravam outras pessoas. Elas amavam em demasia o
vermelho. Eram corados e alegres, determinadas em defender o vermelho
das flores, dos alimentos, as pedras de rubi das calçadas e vestiam-se dos mais
variados rubros tons deste mundo. Afinal, pensavam : como alguém pode não
amar um tomate vermelhinho e suco de morango, ah, não existe nada melhor.
A Bandeira na entrada do lugar era um mastro que flamulava um
pano cor de sangue e isto, segundo eles, espalhava coragem e bom humor.
Bem, eles não olhavam com nenhuma boa vontade alguém que não
pensasse assim. Alguém que não amasse suco de beterraba, e
a parte mais doce da melancia. Então , às vezes, o povo vermelho se
enfurecia com o povo azul. Para eles, aquele povo era triste e desanimado. O povo azul esquecia -se que era um povo zen e
equilibrado e lá do outro lado da ponte gritavam:
- Seus comunistas !
Aos que os
vermelhinhos respondiam:
- Seus
moribundos !
E começava a
guerra.
Ninguém
contudo ultrapassava a ponte, afinal pisar num solo em que as pessoas não
amavam as coisas como você era a última coisa a ser pensada. As ameaças e
planos de guerra eram feitos e ficavam cada qual com seu exército, parados na entrada da ponte, com as lanças
apontadas.
Houve um dia
que os ânimos ficaram tão exaltados entre eles, que preparados
para dar início a batalha que estenderia, finalmente, a bandeira
azul ou vermelha no vale, não perceberam que a natureza enfurecera-se com tanta discórdia e desabara sobre eles. A tempestade de raios e
trovões derrubou árvores, casas, espalhou o que podia pelo caminho. Choveu tanto que inundou a ponte e ninguém sabia mais aonde começava ou
terminava o país azul ou vermelho. Determinados a reerguer as cidades eles misturavam-se entre muros e cercas. E de repente lá vinha correndo
pelo que parecia ainda ser a ponte: o homenzinho. Era um homenzinho
franzino e ligeiro e corria de um lado para o outro gritando:
- É ouro, é
ouro !
-OURO ? disseram todos
-É ouro, insistia o homenzinho. Aqui nesta ponte tem ouro. Um pote de ouro
-Um pote de ouro ! gritaram todos .
E
procuravam, procuravam correndo de um lado para o outro. Acabavam entrando ora
no país azul, ora no país vermelho. Os índigos, acharam engraçados o
suco de morango e salada de beterraba e resolveram provar a parte mais
doce da melancia.
Os alegres vermelhos, acharam encantadoramente lindas as ruas cobertas de
pedras topázio azuis e as flores esplendorosas do jardim.
-Ora, ora,
ora, disse maravilhado o
homenzinho, aqui está o pote de ouro !
homenzinho, aqui está o pote de ouro !
No centro da
ponte ali estava um pote imenso, e como ninguém nunca tinha ido
até o meio da ponte, conheciam pela primeira vez o pote.
Olharam no fundo e lá estava :
Ouro de
todas as cores. Cores, verdes, azuis, vermelhas, lilás, rosa, marrom, amarelo e
todos os tons possíveis. Um pote de cores. Eles enfiavam as mãos nas
cores e riam de felicidade. Surpresos , percebiam algo além de vermelho e
azul. Viam, juntos, as flores brancas que espalhavam perfumes por
todo o vale, florzinhas amarelas, rosas, de todas as cores possíveis e
eles admiravam-se com tudo. Como existia algo tão bonito além do azul
e vermelho, como isso era possível . ?
E o
homenzinho espalhou o pote de ouro por todo
o vale.
o vale.
As vezes, é preciso ir lá fora, conhecer a cor do outro, ensinar a sua, misturar as cores e construir juntos o pote do arco-íris.
Luisa Ataíde