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quarta-feira, 18 de maio de 2016

MIADONA




Antes havia a Lua. Não a lua do céu, mas a gatinha chamada Lua. Um dia ela  foi embora.  Depois que a Lua partiu, Karina,a gatinha amarela,  Filó, a gatinha branca  e Gigi, a gatinha marrom,  subiram no telhado e de lá avistaram outros  telhados. Subiram nos galhos das árvores  e viram  outros galhos. Do muro do  quintal, viram  outros quintais.

Miadona  preparava a comida e deixava leite fresco. Karina  nunca entendia porque os gatos dos vizinhos, chamavam Miadona de Suadona. Mas para ela , a mulher que dava colo e um prato cheio de comida,  era mesmo Miadona.  Aquilo devia ser o que chamam Mãe. Ela não se lembrava se já tivera uma mãe, então Miadona era a sua mãe.

Mas quando a Lua  pulou o muro e nunca mais voltou,  a mãe ficou triste. Deixou a costura de lado, olhou pro céu, suspirou e disse:

  -Acho que virou estrelinha.

Aquilo devia ser saudade.

Naquela noite, Karina, Gigi e Filó  subiram pela primeira vez no telhado da casa e olharam a rua. Com certeza era a rua, pois a mulher sempre dizia ao menino:

- Cuidado com  os carros na rua.

Elas olharam em volta e sentiram  cheiro de gato por toda parte, mas Miadona não entendia , para ela passeio de gato era uma tragédia, um caminho sem volta. Hum... Coisas de mãe.


Do telhado elas  viram os gatos de rua. Eram gatos de todas as tribos e eles faziam muito barulho. Olharam pra baixo e Miadona dormia na rede.  Karina deu três passos pra trás e saltou. As outras olharam assustadas a gata amarela mergulhar no escuro da noite.
.
Passaram-se os dias e Karina não voltou.

Miadona, passou a  fechar todas as janelas da casa com  as duas gatinhas dentro.

Mas, como nem tudo que é ruim dura pra sempre. Um dia, a mulher descuidou de vigiar portas e janelas, então elas também mergulharam no rio fresco da noite. Estavam na rua, estavam livres.

 Havia dias de sol e  noites de chuva. Os cães enfurecidos, os meninos que jogavam pedras. Passaram-se muitos céus estrelados até elas encontrarem a gatinha amarela, deitada na calçada. Estava magra e triste. Todas tinham sede, e o frio entrava por dentro do pelo. O inverno cantava fino e a barriga  doía fome. Lembraram-se da mãe e do colo quentinho. Lembraram-se do prato de leite e como a rua, vista do telhado, era só uma desconhecida. Então... elas tinham pressa.

O melhor de ser um gato é saber voltar . Elas encostavam a cabeça na calçada da rua, cheiravam e iam... iam... iam... até encontrar o  muro da casa.

Havia um felino desconhecido no muro e ele disse:

- Aqui não mora Suadona,  esta casa é de Miadona.

- Pois é, nós sabemos disso, disseram e olharam a rede. Uma mulher estranha dormia lá.

- Vocês demoraram, Suadona se mudou.

Gigi , Karina e Filó subiram na parte mais alta da casa e olharam o céu. Anoitecia, e elas viram a Lua. Não a lua branca e redonda, mas a gatinha, que agora era a estrelinha Lua, e ela piscou três vezes.  Elas olharam no céu  as milhares de estrelas menores que miavam ao mesmo tempo. 

Decidiram ir  em frente. Um gato sempre sabe voltar. Sempre encontra sua dona. Desculpem, Miadona. 

Luisa Ataide