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sábado, 20 de agosto de 2016

AZUL E VERMELHO



Era Uma vez um Vale.  Um lugar tão maravilhosamente  lindo, que podíamos pensar que era impossível não ser feliz ali.  As flores eram de todas as cores, os pássaros cantavam. O céu era claro e limpo. O sol aparecia para dar brilho ao lugar,  e o vento suave brincava entre as árvores. No meio do vale havia o rio que tornava o lugar mais fresco e cheio de vida. Os peixes corriam ligeiros na água limpa, iam e viam entre as pedras em perfeita harmonia. Do lado direito do rio,  viviam as pessoas que  amavam em demasia a cor do céu.  Cultivavam as mais variadas flores azuis:  Agastaches, fúcias, erinus, e centenas de outras. Aonde houvesse uma flor azul, eles buscavam a semente e espalhavam no jardim. Vestiam-se dos mais variados tons de anil, e cobriam as ruas entre as casas,  de pedras água marinha e topázios azuis de todos os tipos. Eles  consideravam-se calmos e tranquilos,  e respiravam essa  harmonia índigo.

Mas lá,  do outro lado do rio moravam outras pessoas. Elas amavam em demasia o vermelho. Eram corados e alegres, determinadas em defender o vermelho das flores, dos alimentos, as pedras de rubi das calçadas e vestiam-se dos mais variados rubros tons deste mundo. Afinal, pensavam : como alguém pode não amar um tomate vermelhinho e suco de morango, ah, não existe nada melhor. A Bandeira na entrada do lugar era um mastro que flamulava um pano cor de sangue e isto, segundo eles, espalhava coragem e bom humor. Bem, eles não olhavam com nenhuma boa vontade alguém que não pensasse assim. Alguém que não amasse  suco de beterraba, e a parte mais doce da melancia. Então , às vezes,  o povo vermelho se enfurecia com o povo azul. Para eles, aquele povo era triste e desanimado.  O povo azul   esquecia -se que era um povo zen e equilibrado e lá do outro lado da ponte gritavam:
   
- Seus comunistas !

Aos que os vermelhinhos respondiam:

- Seus moribundos !

E começava a guerra.

Ninguém contudo ultrapassava a ponte, afinal pisar num solo em que as pessoas não amavam as coisas como você era a última coisa a ser pensada. As ameaças e planos de guerra eram feitos e ficavam cada qual com seu exército,  parados na entrada da ponte, com as lanças apontadas.

Houve um dia que os ânimos ficaram tão exaltados entre eles, que preparados para dar início a batalha que estenderia, finalmente,  a bandeira azul ou vermelha no vale, não perceberam que a natureza enfurecera-se com tanta discórdia e desabara sobre eles. A tempestade de raios e trovões derrubou árvores, casas,  espalhou o que podia pelo caminho. Choveu tanto que inundou a ponte e ninguém sabia mais aonde começava ou terminava o país azul ou vermelho. Determinados a reerguer as cidades eles misturavam-se entre muros e cercas. E de repente  lá vinha  correndo pelo que parecia ainda ser a ponte:  o homenzinho. Era um homenzinho franzino e ligeiro e corria de um lado para o outro gritando:

- É  ouro, é ouro !


-OURO ? disseram todos 


-É ouro, insistia o homenzinho. Aqui     nesta ponte tem ouro. Um pote de ouro !


-Um pote de ouro gritaram  todos .

E procuravam,  procuravam correndo de um lado para o outro. Acabavam entrando ora no país azul, ora no país vermelho. Os índigos, acharam engraçados o suco de morango e salada de beterraba e resolveram provar a parte mais doce da melancia.
Os alegres vermelhos, acharam encantadoramente lindas as ruas cobertas de pedras topázio azuis e as flores esplendorosas do jardim.

-Ora, ora, ora, disse  maravilhado o                 

homenzinho, aqui está o pote de ouro !

No centro da ponte ali estava um pote imenso, e como ninguém nunca tinha ido até o meio da ponte, conheciam pela primeira vez o pote. Olharam no fundo e lá estava :

Ouro de todas as cores. Cores, verdes, azuis, vermelhas, lilás, rosa, marrom, amarelo e todos os tons possíveis. Um pote de cores. Eles enfiavam as mãos nas cores e riam de felicidade. Surpresos , percebiam algo além de vermelho e azul. Viam, juntos, as  flores brancas que espalhavam perfumes por todo o vale, florzinhas amarelas, rosas, de todas as cores possíveis e eles  admiravam-se com tudo. Como existia algo tão bonito além do azul e vermelho, como isso era possível ?

E o homenzinho espalhou o pote de ouro por todo

o vale.
       
  
As vezes,   é preciso ir lá fora,  conhecer  a cor do outro, ensinar a sua, misturar as cores e construir juntos o pote do arco-íris.


Luisa Ataíde