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sábado, 14 de janeiro de 2017

FALTA UM CABELO AQUI.








O menino olhou pra fora da janela e disse:
- Não vou à escola.
No sábado o menino olhou pra rua e disse:
 - Não vou ao cinema.
O menino olhou o  dia e disse:
-Não vou à escola, não vou ao cinema, não vou sair. Não vou, não vou, não vou.
- O que foi perguntaram ao menino ?
- Falta um cabelo aqui. Disse apontando pra cabeça. Estou ficando careca. Eu não sou velho pra ser careca.

Ninguém via nada.Olhavam de cima, olhavam de lado, tudo igual.
 - Não vou, não vou, não vou, dizia o menino igual carro emperrado.
 
Passaram-se os dias, passaram-se os meses e o menino na frente do espelho, sempre lá.
- Falta um cabelo aqui. Falta um aqui  também, chorava.

Veio a mãe, o pai, o barbeiro, massagista, psiquiatra, ritalina, espirulina, , fluoxetina ... e nada.O menino continuava triste. Remédio de benzedeira, de cozinheira, de farmácia.
Passa gengibre, cravo da índia,óleo de ríseo, óleo de côco, esfrega , esfrega , mais alecrim ...  um pedacinho de canela, um pouco de cravo. O menino já estava virando doce.

Nasceu o primeiro fio, o segundo fio, e muitos outros. O menino olhou o espelho, olhou,  olhou e disse:
 Não vou sair de casa.
- O que foi perguntaram ao menino?

- Nasceu uma espinha aqui. Falou apontando pro nariz.


L.A

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

RESMUNGA MUNGA


Era uma vez uma gatinha esplendorosa. Munga tinha os  olhos azuis  que se fechavam bem devagarinho. A cauda preta balançava de alegria de um lado pro outro. O pelo era marrom macio, e as patinhas pareciam ter pisado a neve: vestidas sempre com meias brancas. Dizer que aquela gata era bonita eu diria não ser muito justo, ela era mesmo esplendorosa.

        Mas ela andava triste. Se davam Bom dia ela dizia:

- Naummmm

Tudo bem?

- Naummmmm.

Os dias eram um doído não. Ou talvez um oiiimmm. Aquilo era toda hora, todo minuto, todo segundo, sempre. A gatinha resmungava  sem parar. Não comia, não brincava, não sorria. Pulava o muro para a casa vizinha, queria fugir do nauuummmmm. Voltava no final da tarde e tudo continuava doído e triste como um não ou:
- Oiiimmm, ummmm, naoooummm, aiiiiii, aiiiii.

Por que resmunga Munga?
- aimmmmmm.

Alguém pegou ela no colo e ela chorou um miado mais agudo ainda. Alguém encostou na patinha e o maior nãummmm do mundo pulou lá de dentro. Alguém segurou a patinha de Munga e viu: um sinalzinho preto pra fora, querendo sair mas não podia.Era o espinho da roseira que morava ali, a quanto tempo ninguém sabia.

Alguém puxou o espinho com força, com tanta força que quase arrancou  o  pé de roseira inteiro do espinho. Munga amanheceu feliz.

Bom dia Munga
- Miauuu!
e saiu balançando seu rabinho esplendoroso.



Às vezes o que não nos deixa sorrir é só um espinho no pé.
       

L.A