imagens

quarta-feira, 13 de junho de 2018

A LINHA E O CARRETEL






Era uma linha branquinha como algodão. Morava numa caixa de costura tão antiga que a tampa não mais fechava e ela via o mundo da fresta da caixa. Moravam esquecidos ali, ela e o Carretel. Um sujeito enrolado e gordo e juntos eram uma família: com nome e sobrenome - O Carretel de Linha Branco. 


Esse laço com nó dava à Lili, a linha, conhecer o mundo de longe. Mundo que se movimentava todos os dias a partir das palavrinhas mágicas:

- AO TRABALHO  !

E vinham as bailarinas. Linhas coloridas que bailavam sobre a orientação da Máquina de Costura. Lili também sonhava um dia ter uma fada madrinha: uma agulha.


As linhas coloridas faziam laços, flores e até asas de borboletas.  Numa alegria única, iam dançando, dançando e espalhando cores. Cores lindas que se misturavam e ficavam mais encantadoras ainda.

Lili olhava tudo e sonhava, mas o Carretel continuava lá: enrolado e quieto.

Um dia, a linha branquinha percebeu que havia algo errado no quarto de costura. As agulhas reunidas na mesa ao lado pareciam preocupadas:


-Às vezes, elas dançam tanto,  disse a agulha, que parecem brigar. E isto não está bom, acho que estão cansadas, mas temos tantas encomendas...



Ora, disse a Tesoura. Quando percebo que algo não está bem corto a ponta de alguma delas para dar um descanso.



Lili ficou desolada. Ela nada podia oferecer para as bailarinas das cores. Afinal, pensava, o que pode fazer pelo mundo uma simples linha branca. Esticou-se, esticou-se muito até fazer mexer o carretel. Ele, sonolento e sem esperança confessou que há muito desistira de tudo e conformara-se em dormir o dia inteiro.



- Pois eu acredito que haja alguma coisa que possamos fazer. Proponho abrirmos de vez a tampa da caixa. 



Numa última tentativa de espantar o sono, o Carretel esforçou-se também para abrir a caixa. Empurraram, empurraram até ouvir o barulho da tampa esparramando-se no chão. 



A Máquina de Costura olhou assustada e viu lá dentro da caixa: a Linha e o Carretel e gritou bem alto:


- AO TRABALHO !

 E de repente lá estavam eles, indo direto para o buraco da agulha. E o Carretel pensava: afinal o que posso oferecer ao mundo das cores Sou tão diferente deles, sou tão enrolado. 


A Máquina de Costura era como um maestro controlando a música. Quando a música começava , as bailarinas das cores esticavam as  pernas, os braços,  a cabeça e dançavam. Lili, ali no meio delas, não sabia ao certo para aonde ir. Mas, as agulhas eram mestras no assunto e levavam e traziam a linha branca sempre que as outras exageravam no passo. E elas dançavam e riam, sem nenhuma pressa, controladas pela suavidade da nova companheira. E Lili aprendeu a bordar flores, nuvens, sóis, cidades árvores e asas de Beija-Flor.

E o Carretel ?

Saía rodopiando, rodopiando de felicidade.


Luísa Ataíde




Nenhum comentário:

Postar um comentário